Mesa-Redonda Como representar as literaturas de língua portuguesa?
Por Vivian Rangel
Cinco escritores, quatro nacionalidades e um ponto em comum: a literatura feita em língua portuguesa. Marina Colasanti, ítalo-brasileira nascida na Eritréia, Roger Mello e Volnei Canônica, brasileiros, Germano Almeida, cabo-verdiano e Luís Cardoso, timorense, estiveram na Universidade de Santiago de Compostela no dia 29 de março de 2019* para debater a importância da língua portuguesa em suas trajetórias literárias.
A mesa-redonda, moderada pelo Professor Doutor Carlos Quiroga, também escritor, começou em torno do papel da língua portuguesa na vida de cada um deles. Luís e Marina tinham em comum a escolha da língua portuguesa como língua literária mesmo sem que o português fosse também língua materna (italiano no caso de Colasanti e tetum no caso de Cardoso). O escritor timorense ressaltou ainda a importância da escolha do português como língua co-oficial ao lado do tetum, num referendo onde a população (que se divide em 32 grupos étnico-linguísticos) poderia ter optado pelo inglês.
Germano Almeida encantou o público com sua particular e hilária história de não se encaixar no que se esperaria de uma autêntico cabo-verdiano que quase morre afogado no país insular: “Há uma trilogia que define a vida em Cabo Verde: nadar, tocar um instrumento e dançar. Não aprendi nada”. A Almeida, ganhador do Prêmio Camões em 2018, só lhe restou “ser contador de histórias e não escritor” como ele se autodefine.
Vencedor do Prêmio Internacional Hans Christian Andersen 2014, na categoria ilustrador, Roger Mello, também conta histórias mas não apenas com letras, prefere “confundir palavras e imagens”. Roger discorreu sobre a importância de “pensar com o traço” e citou grandes nomes brasileiros das artes visuais, tanto da fotografia como Sebastião Salgado, o mestre do “grafar com luz”, quanto da arquitetura como Oscar Niemeyer e Burle Marx, responsáveis pela construção de Brasília, cidade natal do ilustrador.
Além da importância da língua portuguesa em suas vidas os autores também opinaram sobre o mercado editorial entre os países de língua portuguesa e as traduções de suas obras. Especificamente sobre a circulação dos produtos literários em língua portuguesa, Volnei Canônica destacou a importância de explorar ainda mais essas relações entre os países que na sua opinião são unidos “por meio da ficção e uma história de muitas misturas, no caso do português brasileiro especialmente devedor das heranças de línguas indígenas e africanas”.
Marina Colasanti, autora de mais de cinquenta títulos entre os quais livros de poesia, contos, crônicas, livros para crianças e jovens e ensaios - e também tradutora - revelou ser extremamente cuidadosa ao aprovar as traduções de suas obras: “ Sei que a tentação do tradutor é aplastar e tipificar a minha linguagem, tender ao usual. E por isso controlo sempre que posso (as línguas latinas que são as que eu posso revisar) para evitar que em vez de uma tradução saia uma traição.”
* O encontro foi organizado pelo Instituto Camões – Centro Cultural Português em Vigo, em colaboração com o Núcleo de Docentes de Português da Faculdade de Filologia da Universidade de Santiago de Compostela, com apoio do Instituto Galego de Análise e Documentação Internacional (IGADI) e o “XX Salón do Libro Infantil e Xuvenil de Pontevedra”, que este ano foi dedicado à Lusofonia.