Foto: Felipe Ruffato
Uma modesta sugestão
É de conhecimento de todos que na história das civilizações prevalece, sobre todos os outros aspectos, o poder político-econômico das nações. E não foi outro o motivo pelo qual os lugares colonizados pelos portugueses passaram a falar uma língua denominada “língua portuguesa” – infelizmente, um erro crasso consolidado ao longo dos séculos. Na verdade, a língua-base na qual se comunicam os portugueses, brasileiros, angolanos, cabo-verdianos, moçambicanos, sãotomenses, guineenses, timorenses e os habitantes de alguns enclaves da Índia é o galego.
O galego é uma variante do latim e nasceu na região que hoje corresponde à Galiza. Dali, desceu para o sul e, como uma província linguística comum ao norte de Portugal, teve seu auge entre os séculos XII e XIV, com a divulgação dos cantares trovadorescos medievais, reconhecidos como um dos mais importantes patrimônios culturais da Humanidade. O outono da Galiza coincide com o esplendor de Portugal – no final do século XIV, os lusitanos iriam conquistar parte significativa do mundo conhecido, impondo sua língua, não mais galega ou galego-portuguesa, mas unicamente portuguesa.
A Galiza só voltaria a ter alguma autonomia no século XX – sob a ditadura do galego Francisco Franco, ironicamente, os galegos não podiam sequer falar sua língua. Portugal, durante a época de seu apogeu político-econômico, assumiu como meta subjugar os povos conquistados usando a língua como fator de comunicação entre colonizadores e colonizados, por quase 500 anos. Assim, a ideia de lusofonia perpetuou-se. Entretanto, esse é um conceito bastante problemático, pois, para além da questão cultural, carrega consigo mágoas e ressentimentos de lado a lado. Poderíamos talvez, substituir o conceito de lusofonia por galeguia, que, além de restituir uma dívida histórica, não esbarraria em antipatias e idiossincrasias acumuladas ao longo dos séculos.
Luiz Ruffato – escritor brasileiro, autor de, entre outros, Eles eram muitos cavalos, Estive em Lisboa e lembrei de você, De mim já nem se lembra, Inferno provisório e Flores artificiais. Seus livros, publicados em 11 países, receberam os prêmios APCA, Machado de Assis, Jabuti e Casa de las Américas. Foi agraciado com o Prêmio Hermann Hesse, na Alemanha.